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tá foda pra caralho - por Gabriel Peixoto


tá foda pra caralho

não é novidade pra ninguém que geral tá sem ar. compressão de tempo que fala, né? pois é. o lance é que a gente não tem tempo nem pra falar, pensar ou discutir sua falta.


o texto que cê tá lendo começa pelo fim. sim, isso mesmo. sou um jornalista, um artista, e prefiro o “jornartista”. já faz um tempo que a correria, os corres e as carências financeiras me tiram o tesão da pauta, e sei que essa realidade atinge colegas das palavras e das expressões — muitas. tá foda viver e sobreviver parece o único caminho.
não escrevo notícia e nenhum texto considerado “jornalístico” pelas academias. na verdade, nunca fui muito do bonde que vai na onda da pirâmide, do lead ou qualquer coisa do tipo. enquanto cidadão político e membro ativo da arte dentro da minha cabeça, encaro tudo que sai de mim como o que eu realmente devo dizer, narrar, demonstrar ou mostrar. e é isso. sem filtros demais.
hoje o calendário marca oito de maio de dois mil e dezoito, e escrevo exatamente às 00:32 segundo o horário de brasília (ou do meu computador que está em belo horizonte). já faz alguns dias que minha psicóloga me ajudou a entender a necessidade da rotina, dos horários e dos compromissos. não gosto de nenhum, mas tive que me render à paz de chegar no final do dia com tarefas cheias de “check” e gratidão à quem as realizou. euzinho mesmo. nessa de cumprir horários, voltei a ler, a tirar tempo pra escrita e outras coisitas que estavam distantes dos meus olhares perdidos e do meu pulmão ser ar.
ontem assisti a uma peça de teatro. puta que pariu. que peça, viu? minha cabeça chata, em muitos momentos, ficou vidrada em pequenos problemas técnicos de som e mínimos fragmentos de texto que soaram esquisitos, mas devo confessar que há muito não sentia o que senti. há muito um produto artístico não aguçava meus sentidos de maneira tão profunda e intensa, a ponto de me fazer criar — mais um- blog. eu precisava falar da experiência incrível de estar naquela plateia, naquele momento, ao lado de um público interessado, do meu amor e de muitos olhares impressionados.
no começo eu não botei muita fé. sequer tinha entendido o momento exato que a apresentação começou — só fui entender (e amar o contexto) minutos depois. minutos que foram importantes pra compreensão do espaço, da proposta e das ousadias que pareciam ser anunciadas ao desenvolver das cenas. a digestão sempre muito tranquila: texto acessível, porém extremamente rico de poesia, força e discurso; atuações impressionantes, discordando da ligeira falta de pegada do início. não sei as outras, mas minha língua se queimou.
o impacto foi tão grande aqui dentro que realmente fica quase impossível separar emoção de crítica. mas, na real, isso nunca acontece. imparcialidade é sonho pra quem tem preguiça de palpar o que tá perto dos olhos. eu fiquei envolvido mesmo, me identifiquei pra caramba e isso também faz parte da experiência público/produto artístico, mesmo quando o público é jornalista, crítico, artista ou tudo isso aí. no fim das contas, a mudança que “um pouco de ar, por favor” me proporcionou é completamente relevante pro texto e pra qualquer comentário, formal ou não, que eu vá fazer sobre.
me impressionei até demais com as nuances de jussara fernandino, que roubou a cena sem deixar neise neves e léo quintão de lado. ela e sua personagem trouxeram tanta vida ao palco que a genialidade do trabalho dos seus colegas ficou ainda mais evidente. como eles mesmo disseram nos agradecimentos, “teatro não se faz sozinho”, e algo foda ajuda tudo a ficar mais foda. o mesmo acontece com os movimentos e olhares de neise, que dão verdade às cenas, ao mesmo tempo que um tom de dramalhão na dose perfeita.
a interpretação de léo quintão me tocou desde o início, quando não consegui entender que ele dava start ao espetáculo. léo, o ator, também interpretou léo, o ator, no palco. seu eu verdadeiro virou personagem, assim como jussara e neise. e foi foda! com instrumentos nas mãos (teclado e guitarra) e na boca (voz), os três ocuparam cada canto do chão retangular com muita propriedade e leveza. tudo ocorria com cuidado, e o esmero era nítido pra qualquer um que, assim como eu, não conseguia tirar os olhos daquela gente.
pra mim, um mero jornartista, a direção de chico pelúcio e dramaturgia de luís alberto de abreu fala, também, de deus, além da falta de ar cotidiana que vivemos devido a tantos motivos que nem conseguimos elencar (até conseguimos mas não temos tempo pra tal). deus (seja ele qual for, e se for) seria criador, assim como os atores. nós seríamos as criaturas desse cara, assim como as personagens. além dessa metáfora, percebo uma camada mais profunda, a de que nós somos criaturas de nós mesmos, e criamos personagens pra atuarmos em diferentes ocasiões, e interpretamos até em frente ao espelho. antes que eu me esqueça, é uma ótima pausa pra estudantes, amantes e profissionais do teatro sacarem muitas ideias sobre o meio e terem boas conversas com amigos em uma mesa de bar.
ah, o texto começa pelo fim porque no fim do espetáculo abordei jussara.
parabéns, de verdade! — eu disse.
ela sorriu e agradeceu, com um olhar de quem esperava mais palavras além das que eu tinha soltado.
eu sou um jornalista frustrado, e hoje percebi que devo voltar às minhas origens. vou trabalhar com jornalismo de arte. e a culpa é de vocês. — completei.
ela disse algo como “não me faz chorar! siga seu sonho”. abracei meu amor, saí da sala e agora publico pela primeira vez no art.in.

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https://medium.com/@art.in/t%C3%A1-foda-pra-caralho-b47f12c7754f

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